Viva o Gordo: ironia e comédia sob o comando de Jô Soares

Personagens como Capitão Gay e Reizinho marcaram a história do programa

Com um nome derivado de um espetáculo que Jô Soares apresentava no teatro, o programa “Viva o Gordo” nasceu temático. Dirigido por Cecil Thiré, o programa de estreia foi dedicado aos gordinhos. O humorista reverenciou personagens de peso da nossa história – como Buda, Sancho Pança e Honoré de Balzac. Para completar a cena, um balé de dançarinas gordinhas, comandado pela atriz Claudia Jimenez, celebrava a alegria de ser “mais cheinha”.

Acompanhado por veteranos da arte de fazer rir, como Brandão Filho, Walter D’Ávila e Berta Loran, Jô Soares interpretava personagens satíricos, que ironizavam os costumes e preconceitos da sociedade. O programa, exibido de 1981 a 1987, também abriu espaço para jovens nomes do humor, como Cláudia Raia e Louise Cardoso, e para artistas mais conhecidos na teledramaturgia, entre eles Flavio Migliaccio, Pedro Paulo Rangel e Denise Bandeira e Felipe Carone, e outros.

Jô Soares com o elenco do 'Viva o Gordo' (Foto: CEDOC/ TV GLOBO)

Personagens

Jô Soares encarnou personagens marcantes no “Viva o Gordo”. Um deles é “Reizinho”, o monarca de um reino com problemas muito parecidos com os do Brasil e com uma personalidade forte. Dono de um ego imenso, assim ele sempre se dirigia aos súditos: “Deste solo que eu piso, desse povo que eu amo, que que eu sou? Que eu sou? Que que eu sou?”. A resposta vinha em alto e bom som: “Sois rei! Sois rei! Sois rei!”. O personagem cativou as crianças, principalmente por ser um rei anão. Para ficar com a estatura reduzida, Jô Soares ficava ajoelhado durante a gravação.

Jô Soares como 'Reizinho' (Foto: CEDOC/ TV GLOBO)

Já o “Capitão Gay” lutava pelos direitos da minoria, o super-herói estava sempre a postos para defender os fracos e oprimidos e não desgrudava do fiel parceiro, Carlos Suely (Eliezer Motta). Escondida sob a identidade secreta de homens de negócios sérios e compenetrados, a dupla se revelava quando recebia o chamado de alguém em apuros. O ar sério dava espaço para uniformes rosas, transformando as duas figuras em seres multicoloridos. O grito de guerra do Capitão Gay era: “Cansei!”.

Carlos Suely (Eliezer Mota) e Capitão Gay (Jô Soares) (Foto: CEDOC/ TV GLOBO)

Se futebol é a paixão nacional, é claro que ele não poderia faltar no programa. “Zé da Galera” de tão fanático pela seleção brasileira ligava do orelhão para encher os ouvidos de Telê Santana com palpites na escalação do time. Representando o clamor da galera, Zé pedia, inconformado, aos berros: “Bota ponta, Telê!”, bordão que ganhou a boca do povo durante a Copa do Mundo de 1986.

Zé da Galera no telefone (Foto: CEDOC/ TV GLOBO)

Sarcasmo é o que não faltava para “Bô Francineide”, uma atriz de pornochanchadas à procura de trabalho na televisão. Sempre acompanhada da “porno-mãe” (Henriqueta Brieba), Bô não se segurava e, impressionada, dizia: “Eu saí de dentro dela!”.

Bô Francineide no 'Viva o Gordo' (Foto: CEDOC/ TV GLOBO)

Bordões

O que seria do humor sem os bordões? Por isso mesmo, separamos os mais marcantes do “Viva o Gordo”. “Tem pai que é cego”, é um exemplo deles. Orgulhoso do filho Dorival, que fazia cursos de maquiagem, balé e corte e costura, Tavares não se continha ao ouvir um pai de família contar sobre as atividades másculas do filho. (“Faz judô, é? Já entendi... Cala-te boca, tem pai que é cego!”). “É o meu jeitinho”, expressão de Rochinha, o tímido desengonçado que causava inveja nos homens por andar com o mulherão Liliane (Magda Cotrofe). “Não quero meu nome em bocas Matildes”, também virou um bordão famoso no programa.

Curiosidades da produção

- Não foi fácil para emplacar o personagem "Capitão Gay" no “Viva o Gordo”. Jô Soares conta que havia um coronel com o sobrenome “Gay” em Brasília e o receio era que houvesse uma intervenção da censura por causa da semelhança dos nomes do personagem e do militar. Para se respaldar, Jô recorreu ao então vice-presidente de Operações da TV Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que bancou imediatamente a ideia do humorista. Tempos depois, Jô se encontrou por acaso com o coronel Gay, que garantiu se divertir imensamente com o quadro.

- Ângela Vieira estreou sua carreira na TV trabalhando por oito anos nos humorísticos “Planeta dos Homens” e “Viva o Gordo”. Sempre no papel da mulher glamourosa, ela aparecia nos programas durante apenas um minuto.

- Se hoje “Falha Nossa” significa o nome de um quadro no “Vídeo Show”, saiba que sua origem veio da boca do contra-regra Piloto, que sempre soltava o tal bordão durante o “Viva o Gordo”.

Reino de Reizinho no 'Viva o Gordo' (Foto: CEDOC/ TV GLOBO)

Linha do Tempo

Relembre os principais fatos que marcaram os anos de 1981 a 1987:

13 de maio de 1981 - O Papa João Paulo II sofre um atentado na Praça São Pedro, atingido por duas balas disparadas pelo terrorista turco Mehmet Ali Agca.
2 de Abril de 1982 - A Argentina invade as Ilhas Malvinas, dando início à Guerra das Malvinas.
1982 - Nasce a banda Legião Urbana.
20 de março de 1983 – Vídeo Show começa a ser exibido na Rede Globo.
24 de janeiro de 1984 - A Apple Computers Inc. lança o Macintosh.
25 de janeiro de 1984 - No dia do aniversário de São Paulo, ocorre na Praça da Sé um grande comício das “Diretas Já”.
26 de Abril de 1985 - A Rede Globo de Televisão (Brasil) completa 20 anos de existência.
24 de Junho de 1985 - Vai ao ar no Brasil, o primeiro capítulo da novela Roque Santeiro.
28 de junho de 1986 - O programa “Balão Mágico” chega ao fim, depois da banda “A Turma do Balão Mágico” se dissolver.
30 de junho de 1986 - Vai ao ar, pela primeira vez, o programa “Xou da Xuxa”.
17 de fevereiro de 1987 – Nasce a atriz Ísis Valverde.
1987 - O cantor Lobão lança o álbum “Vida Bandida”.

Vídeos

Assista à vinheta de abertura do programa em 1987:

Lília Cabral contracena com Jô Soares no 'Viva o Gordo':

Jorge Lafond, mais conhecido como o personagem "Vera Verão", atua no 'Viva o Gordo':